Por Rev. Adalberto do Amaral Ribeiro Taques.
Lendo a Parábola do Filho Pródigo (não concordo com esse título, mas é assim que ela é conhecida) me deparei com algumas coisas que só são verdadeiras na casa do pai.
A primeira, e mais evidente, é que somente lá há pão com fartura. A lembrança de que seu pai era generoso até com seus empregados trouxe-lhe a certeza, como o impacto de uma queda (caindo em si), de que ele estava no lugar errado. Trabalhando com porcos bem alimentados e sem ter o que comer, o filho pródigo se lembra da bondade do seu pai e resolve voltar para casa.
Pão é uma temática antiga na Bíblia. O Senhor fartou seu povo com o maná no deserto e multiplicou pães e peixes para as multidões. Jesus nos ensinou a orar pelo pão de cada dia, mas a Palavra diz que não só de pão vive o homem. É na casa do Pai que temos não somente as nossas necessidades básicas supridas, mas toda Palavra que procede da boca de Deus.
O filho, com discurso pronto e maltrapilho como um mendigo, voltou com a esperança de ser aceito como um empregado na casa de seu pai. O que ele encontrou, mesmo antes de entrar em casa, foi o amor do pai, que correu até ele literalmente de braços abertos. Ele não teve tempo de terminar sua proposta de trabalho, foi logo interrompido pelas ordens do pai para que fosse restaurado às condições de um filho. Não seria mais um mendigo, e nem se tornaria um empregado, ele era membro daquela família, suas roupas e o anel eram sinal disso.
Não fazemos ideia do que Deus tem reservado para nós, isso é fato. Mais do que pedimos ou pensamos é o que Deus tem para nós. Somos modestos em nossas pretensões, achando que tendo comida, morada e roupa, já temos tudo de que precisamos. Mas Deus tem infinitamente mais que isso. Ele tem para nós um lugar em sua família. Ele nos restaura à condição de filhos, deixada para trás lá no Éden. Esse é todo o sentido do nosso ser: filhos de Deus, sua imagem e semelhança.
Por fim, o filho que achava que poderia trabalhar para seu pai por pão, encontra em casa um novilho cevado preparado para a festa, e fora de casa, um irmão invejoso e legalista. A celebração era uma marca das três parábolas irmãs de Lucas 15. Nas anteriores, essas festas refletiam o júbilo no céu e dos anjos pelos pecadores arrependidos. Nesta não é diferente. A única coisa que se acrescenta é a sombra dos fariseus e escribas que rejeitavam a graça de Deus.
O prazer e o júbilo do nosso Deus e dos anjos é real, e estarão estampados diante dos nossos olhos quando Cristo vier buscar a sua noiva. Hoje, como que refletido num espelho, celebramos essa restauração através dos cultos com os quais servimos ao Senhor. Essa mesma adoração é escândalo para um mundo que se acha suficiente em sua própria justiça. Celebramos a vitória de Jesus sobre a morte e o nosso resgate, tropeço para aqueles que não reconhecem a bondade do Senhor. Mas, apesar de toda essa oposição, a festa continua, e continuará eternamente quando formos finalmente reunidos ao nosso Senhor e Salvador.
Digam àqueles que estão fora da casa do Pai, longe ou perto: voltem para casa de Deus. Lá tem pão. Lá você tem identidade. Lá a alegria e a celebração serão por toda eternidade.
*Publicado originalmente no blog do autor.
Rev. Adalberto Taques é teólogo, mestrando em teologia, pastor efetivo da Igreja Presbiteriana Pascoal Ramos, e professor do IBAA.